Com a ascensão dos consoles caseiros entre o fim dos anos 1980 e o início dos anos 1990, os fliperamas tinham um grande desafio em suas mãos. Manter os seus fãs e a lucratividade no mercado eram as grandes preocupações da indústria, principalmente com a mudança de preferências entre os jogadores.
- Qual foi o primeiro arcade da história?
- O que foi o Mode 7? Truque do Super Nintendo criava ilusão de gráficos 3D
A Sega podia ter um pé nos videogames com o Master System e o Mega Drive, mas ela também produzia arcades e tecnologias de ponta, próprias para este nicho. E se ela não estava conseguindo uma vitória garantida em um deles, no outro a situação estava ainda mais complexa.
Eles tinham a autoridade em jogos 3D (o primeiro jogo tridimensional dos fliperamas foi Subroc-3D, produzidos por eles), mas queriam algo superior que realmente chamasse a atenção dos gamers. E a resposta para isso surgiu na forma do Sega Model 1, um chip que revolucionou este mercado e abriu as portas para uma verdadeira experiência imersiva nas cabines.
–
Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.
–
Nós do Canaltech apresentamos o que foi o verdadeiro coração tecnológico por trás da ascensão 3D dos arcades, assim como a sua importância dentro desta vertente da indústria gaming. Então trate de colocar a ficha, apertar o START que a viagem no tempo vai começar.

O nascimento da Sega Model 1
Por mais que recursos e gameplay chamassem a atenção, é inegável que o primeiro contato do público com qualquer jogo é baseado em seus gráficos. E com todos fissurados no potencial dos jogos 16-bit do SNES e Mega Drive, óbvio que qualquer experiência 3D chamaria a atenção do público.
A Sega já tinha alguns títulos com esta tecnologia, mas nenhum que realmente tivesse impactado o mercado como um todo. E eles precisavam disso, já que o mercado de fliperamas estava em risco e um “milagre tecnológico” não só era muito bem-vindo, como era uma das únicas saídas que eles tinham para sobreviver.
Sua equipe de desenvolvimento já trabalhava em uma placa que seria a mais poderosa presente nos arcades. O objetivo da Sega Model 1 (também chamada de CG Board) era alcançar a renderização de gráficos 3D de forma prática, algo extremamente trabalhoso e que exigia um hardware de qualidade ímpar para alcançar.

O time, que era composto por grandes profissionais deste mercado como Toshiyuki Kaji e Hiroshi Yagi, buscou diversas alternativas para dar vida ao “chip definitivo”. Tudo o que queriam era apresentar jogos que tivessem polígonos texturizados e a capacidade de processar cenários complexos em tempo real. Seria pedir muito, afinal de contas?
Neste caminho, o time produziu o jogo Virtua Racing para testar o Sega Model 1 e sua viabilidade. Inicialmente o game sequer tinha projeção de ser lançado comercialmente, mas o time se divertia tanto com ele que a companhia viu um grande potencial na experiência e acabou disponibilizando ele nos fliperamas.
O chip foi lançado em agosto de 1992 e enfrentou alguns outros desafios — porém, todos eles foram responsáveis por aprimorar a experiência tanto da companhia quanto do público em seus futuros jogos. Além disso, é inegável o legado que deixou nos games, como o surgimento da linha de jogos “Virtua” e outras melhorias que se tornaram emblemáticas para os gamers.
Revolução 3D
Não foi apenas Virtua Racing que se tornou um sucesso entre os desenvolvedores e o público. Com o uso do Sega Model 1, o time de desenvolvimento dos arcades também trouxe o primeiro jogo de luta tridimensional da indústria gaming: Virtua Fighter.
Pois é, caros leitores, antes de Bloody Roar, Tekken e outros “fighter arena” sobrecarregarem os videogames durante os anos 1990, tivemos a presença de Akira Yuki e outros lendários lutadores nos fliperamas — conquistando uma grande parcela de fãs e apaixonados pelo mundo dos games.

Este tipo de produção elevou ainda mais os padrões dentro dos fliperamas, o que gerou uma nova corrida. Se a Sega enfrentava a Guerra dos Consoles contra a Nintendo, nos arcades ela encarava uma disputa desenfreada pelo próximo “grande sucesso 3D” que ia virar a cabeça da criançada e dos jovens.
Porém, isso não se resumia apenas a gráficos. Se fosse, a companhia não teria durado muito — por mais que seja extremamente competente, até os dias atuais. Eles também apresentavam uma jogabilidade diferenciada, imagina poder desviar em um jogo de luta? Ou ter pistas e carros completamente reativos durante as experiências? Era inovação de ponta.
O Sega Model 1 modernizou o mercado de fliperamas, o que forçou outras companhias a investirem nesta mesma tecnologia. Konami, SNK, Capcom, Namco e diversas outras tiveram de adiantar diversos projetos para não ficarem para trás — o que gerou uma grande disputa pela atenção do público durante os anos 1990.
Além disso, sua popularidade que abriu caminho para o público ver a qualidade dos jogos 3D que seriam apresentados nos consoles de mesa alguns anos depois. Se videogames como o PlayStation e o Nintendo 64 fizeram sucesso, foi graças à Sega ter testado antes o que dava certo (e o que não dava) com o público nesta época.
Os jogos que definem o Sega Model 1
É importante mencionar que o Sega Model 1 foi criado como um “protótipo” e durou pouquíssimo tempo no mercado de fliperamas. Além de Virtua Racing e Virtua Fighter, apenas 2 outros games foram produzidos para trabalharem com este chip. Veja todos eles:
4. Virtua Fighter

Foi o pioneiro dos jogos de luta 3D, apresentando personagens tridimensionais e uma arena em que podiam se movimentar livremente. Ele pavimentou o caminho para o subgênero “arena fighters”, que foi popularizado em títulos como Tekken, Bloody Roar e diversos outros.
3. Virtua Racing

Outro grande pioneiro em um gênero, mas desta vez abriu as portas para os jogos de corrida 3D. Ele foi um dos primeiros a permitir que o jogador escolhesse qual seria a melhor câmera para jogar, com quatro opções (incluindo a que o jogador vê como é dentro do seu veículo).
2. Star Wars Arcade

Se vimos Ace Combat e outros grandes simuladores de voo hoje em dia, Star Wars Arcade é um dos responsáveis por apresentar como seria um jogo de ação aérea 3D ao público. Além de contar com um gameplay aclamado, ele tinha naves e personagens da franquia — o que atraiu muitos fãs nos anos 1990.
1. Wing War

O fliperama de Wing War era imersivo por si só, já que não contava apenas com os gráficos 3D dentro do jogo, mas também os assentos R360: que se movia para os lados e balançava conforme a ação acontecia na sua tela. Além disso, ele oferecia uma experiência cooperativa, com a possibilidade de contar com o apoio de um amigo ao seu lado.
O brilho do Model 1
Um dos pontos críticos do Sega Model 1 foi o alto custo para a sua produção, o que garantiu que ao menos 4 experiências fossem levadas ao público-geral e se tornassem um sucesso. Ainda que houvesse retorno, desenvolvedores e o time não queria manter os gastos em algo que era apenas um projeto.
Com a vantagem competitiva que eles alcançaram, a equipe de produção não demorou para trazer um sucessor — o Sega Model 2. Ele fazia tudo o que a anterior tinha de melhor, incluindo os gráficos 3D e ainda tinha um desempenho melhor, o que acabou gerando um sucesso maior nos arcades.
Para isso, a companhia contou com o apoio da General Electric Aerospace (que se tornou a agência espacial Lockheed Martin), com o desenvolvimento de um processador que não representasse um gasto tão expressivo. Se no antecessor tivemos Virtua Racing, aqui vimos Daytona USA, o jogo para fliperama mais vendido de toda a história.
Enquanto o arcade teve um curto período de vida, o seu legado foi extenso. O jogo Virtua Fighter, por exemplo, teve diversas sequências e retornará em um breve futuro — produzido pela Ryu Ga Gotoku, responsável pela franquia Yakuza e Judgment.
Ficha técnica do Sega Model 1
Representando uma verdadeira revolução tridimensional, o Sega Model 1 tinha tudo para dar certo no mercado de arcades. Veja do que ele era feito e todo o potencial que ele apresentava para os seus jogos:
Especificações do Sega Model 1 | |
Processador | NEC V60 a 16 MHz |
Co-processador Gráfico | FPU Fujitsu TGP MB86233 |
CPU de Som | Motorola 68000 a 10 MHz |
Processador de Áudio | 2 x Sega 315-5560 Custom 28 channel PCM |
Timer de Som | Yamaha YM3834 a 8MHz |
Resolução de Tela | 496 x 384 pixels |
Profundidade de Cores | 16-bit (65.536 núcleos) |
Recursos Gráficos | Flat shading, Diffuse reflection, Specular reflection, 2 camadas de scroll e Alpha blending |
Curiosidades Técnicas | 180 mil polígonos por segundo, 6.500 polígonos por quadro / Taxa de quadros de 60 FPS |
Uma vida longa ao Sega Model 1
Ainda que a Sega logo produzisse o Model 2 e o Model 3, o Model 1 foi um verdadeiro divisor de águas na história dos videogames. Inovando em cada aspecto, ele popularizou a presença dos jogos 3D nos fliperamas e mostrou como eles deviam se portar perante o público.
Algo que era apenas um protótipo teve um lançamento ousado, dando a tração inicial para que o mercado de fliperamas sobrevivesse por um período maior. Seu período de vida foi curto, com apenas dois anos, mas o que ele começou viveu por muito tempo no carinho e amor dos fãs.
Você fez parte da revolução 3D e jogou Virtua Racing, Virtua Fighter ou qualquer outro título que tivesse sido produzido para o Sega Model 1? Compartilhe e nos conte as memórias que criou enquanto jogava com estes saudosos fliperamas.
Leia também no Canaltech:
- Os jogos eram mais difíceis antigamente?
- Antstream é a nostalgia de jogos retrô, aliada ao futuro do streaming
- Netflix traz fliperamas inspirados em Stranger Things a pontos de ônibus em SP
Leia a matéria no Canaltech.